Precisamos mesmo da Igreja?

Será que é mesmo necessário frequentar uma igreja para ter um relacionamento com Deus? O que a Bíblia ensina sobre a Igreja? Como ela surgiu, qual sua importância e qual seu propósito? Porque existem tantos problemas e escândalos envolvendo membros de igrejas e qual deve ser nossa postura diante de tudo isso?


A Igreja espiritual

Antes de mais nada é preciso deixar bem claro que Igreja não tem nada haver com religião. A religião nada mais é um conjunto de regras estabelecidas pelo homem na tentativa de se relacionar com Deus. No caso da Igreja, é uma outra história. E é sobre isso que iremos falar neste vídeo.

Igreja é uma tradução da palavra grega ekklesia, que é composta pela preposição ek, que significa “de fora” mais o verbo kaleo, que significa “chamar”, ou seja, o seu sentido mais usual é referir-se àquelas pessoas que Deus chamou para se separarem do pecado, chamados para fora de uma vida de pecado para viverem uma vida nova em Jesus Cristo.

O principal sentido da palavra Igreja, escrita inclusive com “I” maiúsculo, se refere a Igreja no sentido espiritual, composta por todas as pessoas que entregaram sua vida a Jesus Cristo! Independente de onde uma pessoa estiver fisicamente, se ela está em Cristo, ela tem a salvação e já faz parte da Igreja (2Co 5.17-19). A Bíblia ensina que a Igreja é a noiva que Jesus Cristo vem buscar (2 Co 11.2, -Ef 5.25-27, Hb 9.28).

A Bíblia ensina que a Igreja é como uma construção, onde nós somos as pedras (1Pe 2.5), e Jesus é ao mesmo tempo o construtor (Mt 16.181), o alicerce (1Co 3.11), e a pedra angular (Ef 2.19-22, Mc 12.102). Toda a base da Igreja está em Jesus Cristo (Rm 11.36, Cl 1.16-17).

A Bíblia também diz que Igreja é o Corpo de Cristo, Jesus é a cabeça (Ef 1.22-23, Cl 1.18, Ef 4.15-16, Ef 5.23) e nós, individualmente, somos os membros desse corpo (1Co 12.12,27, Ef 5.29-30).

Mas a pergunta é: se eu já faço parte da Igreja espiritual, do Corpo de Cristo, ainda sim preciso frequentar uma igreja local?

A igreja local

Assim como uma única pedra não forma uma construção, e um único membro não forma um corpo, assim também não existe a possibilidade de um relacionamento com Deus permanecendo sozinho (Pv 18.1, 1Co 12.17-22) ou se reunindo apenas com pessoas que não fazem parte do Corpo de Cristo (Sl 1.1). Uma vez que passamos a fazer parte da família de Deus (Ef 2.19) é preciso andar em comunhão com nossos irmãos (Sl 133.1, 1Co 12.26).

Por isso que quando nos falamos da igreja local, nós não estamos falando de uma instituição religiosa, nós estamos falando de pessoas, seres humanos, afinal, a existência uma Igreja espiritual/invisível tem como consequência uma igreja visível, que é a comunhão entre estas pessoas (At 2.44-47), e essa comunhão dá origem a uma comunidade, e essa comunidade é conhecida como igreja local. A grande maioria das cartas do escritas por Paulo no Novo Testamento foram direcionadas às igrejas locais da época: igreja de Corínto, Éfeso, Filipos, Tessalônica entre outras (1Co 1.1-2, Ef 1.1, Fp 1.1, 1Ts 1.1).

Fazer parte de uma igreja local não traz a salvação, mas é uma consequência dela. É a mesma relação existente entre a graça de Deus e as boas obras. Nós somos salvos pela graça por meio da fé, não pelas obras (Ef 2.8-9)! Mas o que evidencia nossa fé e a nossa salvação são as boas obras (Tg 2.17-18). Assim como fé sem obras é morta, também não existe vida em Cristo sem se reunir como igreja (1Jo 4.20).

Agora, quantas pessoas precisam estar reunidas para formar uma igreja local? A Bíblia diz que onde duas ou mais pessoas se reunirem em nome de Jesus, ali Ele estaria (Mt 18.20), ou seja, ali existe uma Igreja. Veja bem que não é fazendo qualquer coisa que tais pessoas estão reunidas como Igreja, são pelo menos duas pessoas buscando um relacionamento com Jesus Cristo.

Mas a pergunta é: um grupo pequeno sem vínculo com uma comunidade maior, ainda sim pode ser considerado como igreja local?

Bom, se esse é um grupo fechado que pretende continuar pequeno, ele foge completamente do principal objetivo da Igreja que é a pregação e expansão do Evangelho (Mc 16.15, Rm 10.13-15).

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Agora, se por outro lado este grupo pretende se consolidar e crescer como uma igreja local, nós tempos que perguntar algo muito importante: como surgiu esse grupo?

Será que a pessoa que iniciou esse ministério foi mesmo direcionada por Deus, ou será que ela não foi motivada por questões pessoais? Da mesma forma como existem motivações legítimas para uma pessoa iniciar um novo ministério, existem também motivações erradas (Jd 1.19). Alguns são movidos pelo orgulho, outros pela decepção, outros pela ganância e outros pela vaidade (Atos 20.30). Muitos desejam ter sua própria igreja e esquecem que é o verdadeiro dono da Igreja.

Várias pessoas receberam supostas visões ou sonhos de Deus (Cl 2.18-19), ao longo da história, para criaram novas “igrejas”, e a consequência foi o surgimento de inúmeras seitas (2 Pe 2.1-3).

As denominações e as novas igrejas

Por isso que não é qualquer igreja local que é uma Igreja de Cristo. O que define uma igreja com sendo uma Igreja de Cristo não é a boa vontade de um líder ou o que está escrito na placa da igreja, mas sim o que é ensinado dentro da igreja (Lc 6.46-49)! Tudo deve estar de pleno acordo com as Escrituras (At 17.11).

Porque existem várias denominações?

Se a verdade bíblica é uma só, por existem tantas igrejas diferentes umas das outras? Basicamente por dois motivos:

1. Questões doutrinárias

Muitas heresias acabaram surgindo na dentro da igreja ainda nos primeiros séculos, o que acabou gerando divisões e consequentemente o surgimento de novas igrejas e, posteriormente, estas novas igrejas foram se diferenciando umas das outras por adotarem diferentes posições ou linhas teológicas, que são doutrinas não obrigatórias.

Contudo, hoje em dia, pela grande variedade de denominações existentes, e por tudo o que já foi construído e pesquisado ao longo da história, formar uma nova igreja por questões doutrinárias é muito perigoso, o risco de construir algo sem alicerce e formar um corpo sem cabeça é muito grande. Vale muito mais a pena buscar uma igreja fundamentada na Palavra.

2. Questões culturais

Muitas igrejas surgiram, e ainda surgem hoje em dia, através de pessoas que foram enviadas por uma outra igreja (At 13.1-2, Rm 11.13), visando um dialogo maior com a cultura local. E se existe algo que não deve ser ignorado na pregação do Evangelho é o aspecto cultural. É óbvio que deve-se rejeitar aquelas noções que estão em oposição ao Evangelho, mas também devem ser respeitados os valores que estão em comum e servem ao Evangelho de Cristo (1Ts 5.21-22).

Um ótimo exemplo é a pregação de Paulo em Atenas, utilizando a crença deles em um Deus desconhecido para apresentar o Deus que se revelou em Jesus Cristo (At 17.22-23). Inclusive, nós podemos perceber como algumas recomendações para a igreja de Coríntio eram bem diferentes das recomendações para as outras igrejas, o principal motivo era o aspecto cultural (1Co 11.2-16).

O que acontece muitas vezes é que uma igreja acaba se afastando do propósito de Deus quanto ela atinge dois extremos: (1) ou quando ela impõe uma cultura religiosa e rejeita completamente a cultura local, seja através de roupas, estilo musical ou mesmo a forma de relacionamento entre os membros, ou (2) ela quando ela absorve totalmente uma cultura para dentro da igreja, adotando símbolos, práticas e conceitos estranhos ao Evangelho.

Problemas e escândalos na igreja

E uma pergunta que é muito comum as pessoas fazerem: se a igreja foi criada por Deus, e tem o propósito um relacionamento com Ele (1 Jo 1.3), por que existem tantos problemas e escândalos dentro da Igreja? Inclusive esse acaba sendo o principal motivo pelo qual muitas pessoas não querem ou deixam de frequentar uma igreja.

Aqui nós também podemos encontrar dois motivos principais:

1. Falsos cristãos

O primeiro são falsos cristãos (1 Co 11.17-19). Existem pessoas que se infiltram na igreja local com a intensão de um dia serem líderes para satisfazerem os seus próprios desejos (Atos 20.29-30), já ouviu aquela expressão “lobo em pele de ovelha”? Então, isso vem da Bíblia (Mt 7.15).

E também existem pessoas que frequentam assiduamente uma igreja, mas não fazem parte do Corpo de Cristo. Não houve um novo nascimento (Jo 3.3), normalmente são pessoas nas quais não se consegue identificar uma transformação de vida (1Jo 3.6), elas simplesmente frequentam a igreja por influência dos pais ou por conveniência e acabam se acostumando com a vida na igreja.

Porém, nós não temos condições de saber se uma pessoa nasceu de novo ou não, as vezes é uma pessoa que está em um processo mais demorado de conversão, ou então, infelizmente, uma pessoa que nunca irá se converter (2Tm 3.7), mas é somente Deus quem sabe aqueles que lhe pertencem (2Tm 2.19, Mt 13.24-43 ).

Não cabe a nós esse julgamento, basta seguir a orientação que Deus nos dá para não sermos enganados: toda árvore é conhecida pelo seu fruto (Mt 12.33), se o fruto for ruim, basta você não comer. Quem um dia irá cortar essa árvore é o próprio Deus (Lc 3.9).

2. O ser humano

Já o segundo motivo é o próprio ser humano. Se o objetivo da igreja é preparar pessoas para manifestar o Reino de Deus na terra, significa que Deus não trabalha com pessoas prontas, caso contrário elas não precisariam ser preparadas (Rm 14.1, Ef 4.14). A verdade é que a igreja é como um hospital, repleto de pessoas feridas e machucadas com o propósito de serem curadas (Mc 2.17).

E a pergunta é: se vou enfrentar todos estes problemas na igreja, porque ainda sim devo frequentar uma? Porque a Bíblia ensina que o crescimento e a maturidade só vem através do tempo e da preparação realizada dentro da igreja (Ef 4.13-16). São as tribulações e as dificuldades que enfrentaremos dentro da igreja que podem moldar nosso caráter e nos fazer mais semelhantes a Jesus Cristo (Tg 1.2-4). Afinal, é onde vamos nos relacionar com pessoas diferentes, com personalidades diferentes e temperamentos diferentes, ou seja, teremos que exercitar a paciência, a mansidão, o domínio próprio, a benignidade, a bondade, a fé e principalmente o amor (Gl 5.22-23)! E foi exatamente para isso que Jesus Cristo nos chamou (Jo 15.16).

Leia também: “Fruto do Espírito“.

Submissão

E provavelmente, o principal tratamento de caráter está em se submeter a uma liderança. Afinal, apesar de sermos todos iguais aos olhos de Deus, por uma questão de ordem, Deus estabeleceu funções, ministérios e, consequentemente, autoridades dentro da igreja (Ef 4.11-12, 1Tm 5.17, Hb 13.7). Pessoas pelas quais nós seremos confrontados, desafiados e até muitas vezes, talvez aos nossos olhos, incompreendidos e injustiçados. Muitas vezes vamos discordar de certas atitudes e também teremos opiniões diferentes, mas se isso não ferir as Escrituras, devemos continuar em obediência (Hb 13.17). Lembre-se que para esclarecer pontos conflitantes, o diálogo é sempre a melhor opção.

Pense na igreja como a arca de Noé, permanecer dentro dela poderia parecer quase insuportável, mas fora dela a tempestade era muito pior. Sua decepção com as pessoas jamais poderá ser motivo para deixar de frequentar uma igreja (Ef 6.12, Gl 1.10, Hb 12.2-3).

A verdade é que maior prova viva da ação divina na história da humanidade é a Igreja, sem ela não haveria pregação do evangelho (Ef 3.5-6) e sem a pregação do evangelho não haveria salvação (Rm 10.14).

Conclusão

Você é livre para escolher uma igreja com a qual você mais se identifique, só é preciso tomar muito cuidado para não acabar entrando em uma seita.

Contudo, se você procura uma igreja perfeita, sinto lhe dizer, mas a partir do momento em que você fizer parte dela, ela deixará de ser perfeita.

Notas:

1 Dificilmente esta passagem se refere à Pedro como líder principal da Igreja primitiva, já que esse papel parece ter sido desempenhado por Tiago (At 15.13-21). Veja as possíveis interpretações para a pedra referida por Jesus: (1) O próprio Jesus Cristo, conforme o próprio Pedro diz em sua carta (1Pe 2.4-5). (2) A confissão de fé de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” dois versículos antes. (Mt 16.16). (3) Pedro representando os apóstolos (Ef 2.19-22).
2 A pedra angular une duas paredes no canto de um edifício, mantendo-o estável.

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